quinta-feira, agosto 21, 2008

Como antecipado, começam as 'explicações' sobre os resultados



Ontem, logo após o término das competições, publicamos matéria ("Surpresa? Que Surpresa?") antecipando as 'desculpas' que seriam apresentadas pelo diretor técnico da CBJ, Ney Wilson: de novo, acertamos na mosca.

Na edição de hoje da Folha de São Paulo, em matéria assinada pelo jornalista Luís Ferrari, Ney Wilson começou a listar algumas delas:

- "Só Japão e China fizeram mais de um campeão"
- "As medalhas foram muito divididas"
- "Em termos quantitativos, o objetivo foi alcançado"

O portal Terra publicou matéria onde Ney Wilson, entre outras justificativas, listou a não ida da psicóloga como co-responsável pelo mal resultado e 'analisa' algumas atuações:

- "A competição foi atípica. Grandes potências deixaram de ganhar medalha, ninguém podia esperar a Rússia sem medalha"

"O judô é mais do que nunca globalizado, você treina com os adversários. Todo mundo se expõe e isso está se universalizando"

"Uma equipe com três campeões mundiais sem chegar em uma final é algo que frustra"

"Em termos técnicos, o reconhecimento do nosso judô é mundial. Não vejo que possa ter havido falha na parte técnica. Há muitas áreas de atuação no nosso esporte e uma delas é a psicologia"
"A gente lida com confronto direto, contato físico, assédio da mídia, então isso pode ser trabalhado melhor"

A pergunta permanece: ninguém pensou em tudo isso antes de fazer 'promessas' de resultados difíceis de atingir. Não impossíveis, mas difíceis.

Sem delirar, Japão, Cuba e França terminam na frente

Terminado mais um ciclo olímpico, ficam duas importantes lições para os dirigentes brasileiros: humildade e precaução.

Anunciar que já fazemos frente para potências como Japão (1º lugar com 4 ouros, 1 prata e 2 bronzes), Cuba (10º lugar com 3 pratas e 3 de bronzes) e França (11º lugar com 2 pratas e 2 bronzes) foi um descuido carregado de delírio.

Os resultados dos desafios caros e mirabolantes promovidos por Paulo Wanderley e seu assessor de marketing só disseram alguma coisa para a CBJ que, erroneamente, usou isso como combustível ('batizado') para a equipe.

É visível a evolução - diga-se, natural - que o Judô brasileiro vem sofrendo ao longo das últimas décadas e temos tudo para encostar e ultrapassar as grandes potências. Mas devemos entender que tudo isso leva tempo e não acontece da noite para o dia.

A tradição de resultados tem que ser respeitada: sem medo, sem delírio e sem megalomania. Ney acertou quando citou o 'assédio da mídia' como fator 'atrapalhante'.

Durante os últimos anos, não alertamos uma, duas nem três vezes para esse perigo: foram dezenas de vezes.

Esses espetáculos dantescos só serviram para uma pessoa: Paulo Wanderley. Na sua corrida alucinada para impressionar a mídia, de forma irresponsável, saiu prometendo mundos e fundos. Contaminada, a equipe técnica deu continuidade à 'bola de neve' em que tudo se transformou e sobrou para os atletas a realização do sonho de Wanderley de se tornar 'presidente do mundo'. O cara quer tudo: a CBJ, a UPJ e a FIJ. 'Doido de corrente".

Os excelentes resultados obtidos no Mundial 2007, no Rio, foram atípicos. Poucas vezes grandes potências conseguiram isso. Só que a coisa toda deveria ter sido trabalhada de forma diferente: talvez usar esses resultados como fator estimulante - e não delirante - no preparo da equipe. As coisas não acontecem assim.

Uma medalha de ouro e duas de bronze - meta anunciada antes dos Jogos - colocariam o Brasil em 4º lugar na contagem geral, na frente de países com tradição respeitável como Azerbaijão, Geórgia, Alemanha, Cuba, Holanda, Coréia do Norte, Uzbequistão, Áustria e Kazaquistão. Mas ficamos em 18º atrás de todos eles (sem falar nos três primeiros Japão, China e Coréia do Sul). Essa gente frequenta o 'top 10' há muitos anos e não lemos nenhuma declaração mirabolante de nenhum deles antes dos Jogos. Deu no que deu.

Que, junto com a parte técnica, a CBJ aprenda com o Japão um pouco de humildade e precaução. As declarações de Ney Wilson de que batemos a Vela e o Atletismo em número de medalhas confirmam a 'síndrome da língua nervosa' posto que esses dois esportes só começaram a competir ontem.

Para a afirmar isso, Ney deveria esperar o término dessas competições (no dia 23) e 'torcer' para que Robert Scheidt e as feras do Atletismo fiquem fora do pódium. Difícil, muito difícil.
Carlos AMC CunhaJUDOBRASIL

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