quinta-feira, janeiro 03, 2008

Na luta por uma vida melhor



Pernambucana, negra e pobre, Prislaine Bezerra, 14 anos, convive bem de perto com o mundo do crime. Estudando numa escola pública conhecida pela violência e tráfico de drogas, ela presencia todos os dias uma realidade comum a muitos brasileiros. Mas, apesar de todos os caminhos apontarem para uma vida trágica, Prislaine conheceu o judô e foi no esporte que a pequena atleta encontrou o rumo para uma vida melhor. Hoje, com apenas cinco meses de treinamento, Prislaine é destaque na modalidade.
Tudo começou no início deste ano, quando, ao assistir ao seriado Malhação, exibido pela emissora Rede Globo, Prislaine teve acesa a paixão pelo judô. “Eu já gostava antes. Mas deixei um pouco de lado. Foi quando eu comecei a ver os personagens de Mateus e André lutando na novela e deu vontade de lutar também”, explicou Prislaine. Então, com a permissão e o apoio da mãe, a jovem atleta iniciou os treinos na Associação dos Servidores da Sudene. Mas daí veio o primeiro problema: a falta de dinheiro. “Minha mãe não tinha dinheiro para pagar meu kimono, que era R$ 93. Tive que esperar um mês ainda para ela comprar a roupa para eu começar a treinar”, desabafou a atleta.
Sem patrocínios e morando com a mãe, as duas irmãs e os dois primos numa pequena casa de tijolo aparente, nos Torrões, Prislaine tem nos R$ 102, proveniente do programa Bolsa Escola, do Governo Federal, a única renda para praticar o esporte, ainda insuficiente. Catando garrafas e latas, a mãe da atleta só consegue receber no máximo R$ 17.
Minha mãe chegou a dizer que eu não ia poder treinar mais, porque não tinha dinheiro para pagar a mensalidade (R$ 35) da escola. Foi horrível. Mas depois ela conseguiu pagar”, contou Prislaine, aos prantos. “Eu muitas vezes saí para competir levando só um saquinho de bolacha porque não tinha outra coisa”, completou. Mas, apesar de todos os obstáculos, a pequena atleta não desistiu do sonho e, com apenas cinco meses de treinamento, ela surpreendeu e conquistou a medalha de bronze no Campeonato Brasileiro de Judô, realizado no dia 1° de dezembro, no Rio Grande do Sul.
A judoca também foi destaque em alguns torneios no Estado, quando ao lutar com a faixa branca, para iniciantes, superou adversárias mais experientes e conquistou medalhas. No último dia 14, a pequena atleta fez exame de faixa e subiu dois níveis, passando da faixa branca para a azul escura. Aos 14 anos, vivendo na pobreza, Prislaine conseguiu aliar a vontade e a determinação para superar as adversidades. Hoje, a pernambucana já sonha alto. “Meu desejo maior é que algum dia eu dispute a Olimpíada e o Pan-Americano”, imaginou, feliz.
-Matéria publicada na Folha de Pernambuco, assinada pela jornalista BÁRBARA RODRIGUES, em 26.12.07.
Este é um exemplo do que o esporte pode fazer pela juventude.
Parabéns Prislaine, você é um exemplo.
Pietro Garcia

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