O Professor Floriano Almeida, é uma referência quando se fala em treinamento de Judô, em postura ética, em respeito e em dedicação ao Judô.
O Judô Pernambuco já teve a honra de publicar entrevistas com o Professor Floriano Almeida, reconhecendo seu valor e exemplo para o Judô Brasileiro.
Abaixo, transcrevemos entrevista publicada no site JUDO BRASIL (http://www.judobrasil.com.br/2008/divulg116.htm).
Floriano comemora 3 convocações olímpicas
Floriano de Almeida Paulo. O nome dispensa apresentações para quem conhece alguma coisa de Judô. Técnico do Projeto Futuro de São Paulo nas décadas de 80 e 90, revelou dezenas de campeões internacionais. Transferiu-se para o Minas Tênis Clube no final da década de 90, deu início à um trabalho que, em poucos anos, transformou promessas em realidade. Leia a entrevista e conheça mais um pouco as idéias de um técnico que transforma em ouro (prata ou bronze) aqueles que "toca".
JUDOBRASIL: Minas Gerais confirmou 3 vagas na equipe olímpica: Luciano Correa (-100kg), Érika Miranda (-52kg) e Ketleyn Quadros (-57kg). Todos são atletas do Minas Tênis Clube, portanto, sob o seu comando. Em Atenas, Fabiane Mayumi Hukuda (hoje, “Fabiane Mayumi Hukuda Strubreiter”) foi a única “mineira” no time olímpico. Hoje ela vive na Áustria, casou e é cidadã naturalizada, tanto é que, competindo por aquele país, ficou com a sétima colocação no Aberto de Varsóvia, há quase duas semanas.Voltando, como é que um único clube, praticamente sem ter adversários à altura dentro do estado, consegue classificar quase 20% da seleção olímpica?
Floriano de Almeida Paulo: Bem, primeiro temos que considerar de quais atletas estamos falando, quero dizer, do perfil de cada um. Eles vieram para cá com objetivos claros que é o de atingir o máximo dentro da modalidade que praticam. Isso facilita muito o trabalho pois, a entrega é total, incondicional, a confiança que eles tem no nosso trabalho é imensa. A estrutura do clube é exemplar e esse fator dá tranqüilidade e também temos um método de trabalho, uma rotina diária que envolve todo o grupo. É o que chamo de trabalho de "dia a dia" , "olho no olho", eu preciso ver meus atletas todos os dias, é assim que eu gosto de trabalhar...
JUDOBRASIL: O intercâmbio é uma coisa importante. Como é que vocês do Minas oportunizam isso aos atletas que não estão na seleção?
Floriano de Almeida Paulo: Procuramos receber o maior número de atletas visitantes aqui no nosso Dojô, isso nos ajuda muito pois, nem sempre conseguimos levar um grupo grande em intercâmbios fora do clube. Recebemos atletas de vários clubes e federações do Brasil e do exterior. Sempre tem gente nos procurando para treinar conosco.
JUDOBRASIL: Pela primeira vez, o Piauí classificou uma atleta (Sarah Menezes, -48kg) para os Jogos Olímpicos: para a nossa alegria, do Judô. Parece que o técnico dela, Expedito Falcão, estagiou no Projeto Futuro de São Paulo na época em que você era o coordenador. Comente a passagem do Expedito pelo Projeto e do seu convívio com ele.
Floriano de Almeida Paulo: Expedito é um técnico muito interessado e procura sempre aprimorar conhecimentos. Tenho uma boa relação com ele embora nunca tenhamos trabalhado juntos.
JUDOBRASIL: Até que ponto essa troca de informações e o estágio no Projeto podem ter contribuído para o sucesso do trabalho dele com a Sarah?
Floriano de Almeida Paulo: Não posso dimensionar isso mas, com certeza àquela época treinávamos no Projeto de uma maneira muito forte e tínhamos na ocasião grandes talentos despontando, por exemplo os irmãos Camilo, entre outros e isso com certeza inspirava muita gente que nos visitava. Havia muita energia boa por lá.
JUDOBRASIL: Como é que você analisa a crítica das pequenas academias que reclamam do “compra pronto”, ou seja, de clubes que não mantém um trabalho de base consistente e “compram” suas equipes de competição? Clubes grandes que contratam atletas praticamente “prontos”, com resultados comprovados em competições?
Floriano de Almeida Paulo: Esse não é o nosso caso específico pois, temos cerca de 480 praticantes em todas as idades. O clube prioriza o trabalho de base e insiste nisso. Porém, nós recebemos atletas de fora sim e com muito orgulho, damos oportunidade a eles de se desenvolverem plenamente.
Aqui são raros os atletas que chegam na classe sênior, a maioria chegou quando ainda eram juvenis ou juniores, quando o Judô ainda não está consolidado. Eu gosto de trabalhar com a construção, na transformação do atleta.
Existe uma realidade que eu enxergo como natural e isso não tem nada com clube grande ou pequeno mas, sim com o perfil do professor ou do técnico. Digo isso, pois vejo perfeitamente que existem professores que são especialistas no trabalho de base, fazem um excelente trabalho na iniciação e nos primeiros passos competitivos dos alunos. Já outros são muito bons no alto rendimento, não tendo a mínima característica para trabalhar com a iniciação e ainda há um terceiro grupo no qual eu me incluo que é, aqueles que fazem a transição entre um e outro.
Vejo isso como uma coisa muito boa, pois aos poucos, cada um atua dentro de um mercado e o Judô brasileiro vai crescendo, graças ao esforço de cada um dentro de seu segmento.
JUDOBRASIL: Você dirigiu a seleções brasileira e olímpica femininas por seis anos. Qual é a diferença entre trabalhar com a seleção e o time do Minas? Qual a diferença estrutural e de liberdade (autonomia) para trabalhar entre as duas equipes?
Floriano de Almeida Paulo: Bem, a diferença principal é que no Minas nós planejamos todo o trabalho com a equipe técnica e acompanhamos de perto, acompanhamos o dia a dia do atleta e na seleção nossos encontros eram mais esporádicos sempre perto de competições, o resto do tempo estavam treinando em seus clubes e aí eu não podia acompanhar as atletas como eu gostaria.Quando viajávamos e passávamos 2 semanas fora era muito bom, nos aproximávamos e conseguíamos nos acertar tecnicamente, eu podia atuar dentro do componente técnico que eu queria modificar ou mesmo potencializar. No ciclo olímpico de Atlanta, além d’eu viajar com a equipe olímpica, muitos deles treinavam comigo no Projeto futuro (Garcia, Branco, Henrique, Aurélio...) e isso facilitava também.
JUDOBRASIL: Você é um técnico que não para de acumular vitórias. Mas, curiosamente, as mais importantes aconteceram como resultado do trabalho no Minas do que na seleção. No ano passado, um título mundial Sênior do Luciano Correa, medalha de bronze no Mundial do Cairo, duas medalhas em Universíades, além da medalha de bronze da Érica Moraes no mundial universitário em Moscou - o sucesso nos Jogos Pan-americanos e três vagas olímpicas. Por que mais sucesso no Minas do que na seleção?
Floriano de Almeida Paulo: Tive boas conquistas também na seleção Junior nos mundiais de Portugal e de Cali, além de medalhas no mundial sênior da França com o Fúlvio, depois o bronze da Edinanci no Japão mas, realmente creio que o trabalho do dia a dia é que faz o resultado. Pela minha forma de trabalhar eu gosto de ter o atleta na minha mão o tempo todo. Quero saber como ele está na escola (não abro mão que sempre estudem ou tenham alguma coisa produtiva além dos treinos), como está se alimentando, como está passando e na seleção isso fica mais difícil pois, não conseguimos estar com os atletas mais tempo. Tenho procurado nesses anos fora da seleção interagir bastante com o Jun Shinohara para que eu possa ajudá-lo no trabalho com o Luciano, posso dizer que temos uma parceria muito grande nos resultados dele pois, sempre trocamos informações e sugestões um ao trabalho do outro.
JUDOBRASIL: Muito obrigado. Deixe, agora, uma mensagem ou seus comentários finais...: qualquer coisa que julgue importante ressaltar.
Floriano de Almeida Paulo: Quero dizer que estou muito orgulhoso da convocação desses atletas pois, vejo a dedicação aos treinos, sempre incansáveis e preocupados com minhas indicações técnicas. Estou feliz por eles por terem conquistado isso no tatami, por suas qualidades técnicas e além disso, vejo o quanto eles ainda tem para melhorar e o quanto ainda podem evoluir. Aqui no clube, já começamos o próximo ciclo olímpico já no ano passado e temos um grupo bem jovem envolvido nisso, o que me deixa muito motivado e Luciano, Ketleyn e Érika fazem parte desse grupo. Creio que a motivação é que move as coisas, principalmente no esporte.
Agradeço ao pessoal do Minas, a meus companheiros de clube, pois é na somatória de nossos esforços que conseguimos fazer resultados. Vim para Belo Horizonte por um desafio e consegui quase tudo o que vim buscar, gosto disso e pretendo encarar outros desafios, aqui ou em uma seleção, talvez procurando aliar as duas coisas, quem sabe, não é?-
"DA ERA MAMEDE, SÓ FALTA MOTA!"
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