quinta-feira, novembro 29, 2007

RESPEITO A VIDA





Depois do acidente com a Judoca Daiane Tavares, que ainda esta sendo apurada por inquérito policial, o tema merece uma atenção especial.

O Judô Pernambuco publicará alguns artigos sobre o Respeito à Vida dos Atletas, sobre a Segurança em competições, e por que não, proporá ações e levantará questões para reflexão de pais, técnicos e judocas.

Hoje começamos com um comentário do Professor Mauro Cesar Gurgel de Alencar Carvalho, publicado na Lista CEVJUDÔ.



“Amigos do Judô,


Falando em fatalidades, felizmente o Judô competitivo é um dos esportes que menos causam fatalidades, mas lesões são comuns, principalmente durante competições. Dentro das atribuições do professor, eu acredito piamente que a maior parte das lesões possam ser evitadas se algumas medidas forem tomadas:


1) permitir que as seguintes normas sejam obedecidas:

1 criança por 2 m quadrados (=1 tatame de 2x1m),ou 1 adolescente por 3 m quadrados (=1,5 tatames),ou 1 adulto por 2 m quadrados (=2 tatames).




2) durante treinamento visando potência anaeróbia (máxima produção de lactato)ou capacidade anaerobia (tolerância à acidose lática), evite por dois judocas cansados ao mesmo tempo, optando por treinar essas valencia com apenas um dos judocas da dupla revezando o outro.



3) Evitar jogar a todo custo. Deve-se lembrar sempre ao judoca que o mais importante é a qualidade do movimento e o timing (coordenação temporal), tentando jogar de ippon no tempo certo da técnica. Boa parte das lesões pode ser evitada se o atleta for bem orientado pelo professor a ter certas atitudes ao projetar o colega. É no momento crítico da projeção, em que o judoca quase "encaixou" o golpe que ele, em treinamento, deve optar por não projetar seu adversário a todo custo. Uma técnica quase defendida, vai gerar uma projeção mal feita e aí sim o risco de lesão aumenta.


Para trabalhar, bem a questão da antecipação de movimentos do adversário e do timing pode-se usar o uchi-komi em movimento (treino de entradas para frente, trás, lados e girando), yaku-soku-gueiko (treino de entrada ou projeção em movimentação livre) e kakari-gueiko (treino onde só um ataca e o outro só esquiva sem força).



4) Evitar jogar de qualquer jeito ou cravar o colega. Outra coisa também é a questão da gentileza na hora de projetar, evitando jogar e soltar o colega como se fosse um saco de batatas ou então cravando-o no tatame e ainda caindo em cima. Tal tipo de treinamento "cravando" o colega e caindo por cima deve ser feito sobre colchões fofos (>20cm) de salto em altura ou ginástica e não sobre uma única camada de tatames, mesmo num tablado com sistema de amortecimento de pneus embaixo.



5) evitar por iniciantes para lutarem entre si o tempo todo, pois seus movimentos ainda estão na fase da coordenação grosseira do movimento e acabam machucando o colega ou se machucando. Lutar com mais graduados sempre ajuda ao iniciante a aprender a cair com segurança e a se movimentar melhor no Dojô e também ao mais graduado a treinar aquele movimentos que ele ainda está aperfeiçoando.



6) evitar fazer mais de 3 treinos fortes por semana, por exemplo, muitas sessões randori pesado como se vêem em muitos centros de treinamento, pois o judoca não permite que seu corpo se recupere das micro lesões em tempo hábil para receber um nova carga de trabalho. Se forem randoris sucessivos mais soltinhos, visando impor o seu ataque e defender com o mínimo de força, aí é outra história, mas não é isso que se vê normalmente. Há muitos judocas que acham que ir treinar forte todo dia ou em certos lugares, ele vai melhorar tecnicamente, mas não é bem isso que acontece. O Judoca nesses casos acaba ficando mais "durinho", mais difícil de ser jogado, não aprende novas combinações porque só treina luta praticamente e, infelizmente, se lesionando.


Eu espero ter sido útil à nossa reflexão sobre a vida nos tatames e que consigamos mudar esse paradigma que aponta o Judô como esporte com boas chances de gerar lesões nos seus praticantes. Eu conheci gente que quase ganhou carteirinha de sócio-atelta do Hospital ou do Departamento Médico do clube por treinar forte varias vezes durante a semana ou em vários lugares onde se encontram treinos fortes. Se alguém tiver mais alguma idéias sobre o assunto, por favor, compartilhe-as conosco”.


Um forte abraço,


Mauro Gurgel

Prof. Mauro Cesar Gurgel de Alencar Carvalho

Prof. da Disciplina Judô/EEFE/USP

(011) 818-3120 Depto. de EsporteMestre em Biociências da Atividade Física (EEFD/UFRJ)

Coordenador do Judôjo - Grupo de Estudo de Judô (LADESP/EEFE/USP)Pesquisador do LADESP/EEFE/USP

Organizador da lista de discussão sobre Judô (CEV/UNICAMP)


Membro da equipe Judobrasil

http://www.judobrasil.com.brmauro.gurgel@judobrasil.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Comentário publicado no cevjudo:

"Agradeço as palavras gentis com amigo judoca de Pernambuco e reafirmo
a importancia de um blog sobre Judo com cerce de 1000 acesso por mês.
Parabéns!
Um forte abraço a todos,
Mauro Gurgel"

Anônimo disse...

Quero aproveitar para parabenizar o Pietro por este importante artigo.
O Judô Pernambuco sempre está mostrando a realidade que mutos preferem não enxergar.