TADAO NAGAI - ENTREVISTA

Mantendo nossa filosofia de publicar artigos e entrevistas com personalidade do Judô, estamos hoje, publicando uma entrevista com o Professor Nagai, uma referência no judô pernambucano e nacional.

Profº Nagai, durante muito tempo Pernambuco foi referência, não só no Nordeste, mas no Brasil, quanto ao nível técnico e conquistas no Judô Nacional. Como o Sr. analisa o quadro atual do nosso Judô?

É verdade, pude acompanhar bem de perto a ascensão do Judô pernambucano no quadro Nacional e Internacional e fico feliz em relembrar, pois acredito que também contribuí para isso.

Quanto ao quadro atual, acredito que o Judô pernambucano precisa resgatar a sua auto-estima, temos vários atletas que pararam de competir e que se retornassem iriam motivar e estimular cada vez mais o crescimento e desenvolvimento do nosso Judô, atletas altamente técnicos e competitivos.

A cisão do Judô pernambucano teve como resultado visível uma queda em nosso nível técnico e conseqüentemente de resultados no âmbito Nacional. Em sua opinião, embora V.Sa. tenha sido um dos fundadores da Liga, que perspectiva teremos pela frente quanto ao crescimento do nosso Judô?

Eu não acho que o judô pernambucano teve queda, mas sim pouco desenvolvimento. Isto é bem visível quando observamos, por exemplo, a Paraíba e o Rio Grande do Norte, que vem crescendo e se destacando cada vez mais, enquanto Pernambuco estagnou. Não vejo a Liga como o causador dessa estagnação, muito pelo contrário, hoje, na liga, sinto-me muito mais livre para trabalhar e ajudar no desenvolvimento do judô e sinto que estamos no caminho certo, pois com apenas 03 anos de existência muitas coisas foram feitas, com o pensamento de resgatar o verdadeiro judô, interiorizando e atendendo também os menos favorecidos. Acredito que a tendência, mais inteligente, é acontecer um dia atletas da Federação e da Liga competirem nas mesmas competições. Em nenhum segmento o monopólio é sadio para a sociedade. A meu ver, deveria ser brindado e festejado o surgimento de uma outra instituição para reger e organizar o nosso esporte, assim, cada uma delas terá que se propor a oferecer o melhor serviço, melhores tarifas para satisfazer e atender seus atletas. Acho que todos ganham com isso. Por tanto, acho que as perspectivas são as melhores possíveis, é só deixar o preconceito e a vaidade de lado e procurar o que é de fato melhor para o Judô, não só de pernambucano, mas Nacional.

Que atletas Pernambucanos, o Sr. Ver possibilidade de despontar no Judô Nacional, e por quê?

Atletas de destaque nós temos vários, fica difícil citar, até mesmo para não correr o risco de esquecer alguém. Temos atletas em várias categorias necessitando apenas de ajuda para sobressair dentro do judô de alto nível.


Professor, desculpe se o Sr considerar indelicadeza, mas se comenta, que o acordo firmado na época entre a Nagai e a Federação, no processo movido por V.Sa. fortaleceu ao Mota. Mota havia punido a Nagai e o acordo feito, foi à manutenção da punição, o que deu a entender que o Mota tinha o poder absoluto, fazendo com que as Academias que tem a Nagai como referência, passasse a temer o poder que tem a Federação.

Eu pergunto: Por que a Nagai não continuou com o Processo e não levou a frente às denúncias, principalmente no que se refere às denúncias do convênio com o bingo?

Esta resposta me permita iniciar contando um pouquinho da minha história com o Judô Pernambucano.

Durante longo período à frente do judô de Pernambuco sentia-me gratificado ao ver o resultado do meu trabalho, até porque, quando eu vim para Recife, não vim pelo judô, nem para o judô. Mas, a pedido de um grupo de professores aceitei o desafio, mesmo sabendo da dificuldade que eu teria para impor alguma regras.

O meu objetivo era continuar o mesmo método que eu havia aprendido em São Paulo com o meu profº Ogawa e para conseguir tive que ser enérgico. Mas algumas pessoas não me entenderam, não sei o motivo, mas acho que foi por inveja, afinal, a Academia Nagai em todas as competições era Campeã em quase todas as categorias, acredito que isso incomodava. Nunca me eximi de ensinar àquilo que sabia, hoje muitos dos que estão ensinando ou ocupando cargos e funções no Judô pernambucano foram alunos meus.

Ao longo dos anos muitas coisas desagradáveis aconteceram, tentaram me desvirtuar do verdadeiro judô, o judô técnico e disciplinar, e eu não me rendi a isso tudo. Tentaram denegrir minha imagem, fui em busca da verdade, mas o alto poder financeiro falou mais alto. Alguns professores do meu grupo se afastaram e isso me deixou muito magoado, principalmente, porque alguns deles eu ajudei de forma direta a se estruturarem e montarem suas academias e no entanto me deram as costas. Mas isso me fortaleceu mais e pensei: agora é procurar um outro caminho em busca do que é melhor para o Judô e hoje agradeço a Deus por tudo que eu tenho: o apoio, à colaboração e o respeito da minha esposa e dos meus filhos e aqueles que fazem Associação Nagai.

Não acho que nenhum poder é absoluto e ninguém é onipotente, se alguém vê assim ou se comporta como se o fosse, acredito que isso é um distúrbio e um equívoco de quem vê. Atribuir a mim o fortalecimento de quem quer que seja, isso não, afinal, o enfraquecimento é moral e agora, com o surgimento da Liga, vejo novos horizontes para o Judô pernambucano.

A criação da Liga é uma tentativa de mostrar que a administração do Judô pode ser feita de forma diferente. Como explicar que vários dos membros que fundaram a Liga participaram por muito tempo da Administração Mota, aprovando e concordando com seus atos?

A criação da Liga não foi uma tentativa de mostrar que a administração do Judô pode ser feita de forma diferente, mas fico feliz que você veja e perceba que a nossa administração é diferente, esteja certo que estamos tentando acertar. A Liga surgiu como uma alternativa para àqueles que não concordavam ou não estavam satisfeitos com o que estava sendo praticado no Judô Pernambucano. Não vejo nenhum problema de alguns membros terem participado da “administração Mota” o que importa é se eles estão ou não empenhados em contribuir para o que acreditamos que seja melhor para o Judô.

Enfim, que perspectiva o Sr. Vê para o Judô pernambucano e que caminhos o Sr. Sugere para melhorar tanto tecnicamente como de resultados?

Como falei anteriormente, para mim, as perspectivas são as melhores possíveis, já temos a Liga e temos um blog que nos “obriga” a refletir, pensar e discutir questões como essa, acho que isso é muito sadio. Não tenho a pretensão de achar que tenho a fórmula para o sucesso do nosso Judô, o que eu sugiro é o que sempre acreditei, que se seguirmos a fundo a filosofia do judô tudo tende a dar certo, não há outro caminho.

Que mensagens o Sr. Deixaria para os Judocas pernambucanos, independente de serem filiados a Liga ou a Federação?

O nosso Judô poderá voltar a ser uma potência, desde que todos, tanto da Liga quanto da Federação sigam o caminho da moralização e do verdadeiro judô, técnico e moral, sem vaidades e preconceitos.